quinta-feira, 7 de abril de 2011

O TABEFE E OS AVÓS


Vindo directamente da região da Vidigueira, bem no interior alentejano, a senhora da mercearia aqui do bairro voltou a arranjar-me mais uma porção de Tabefe - ou Almece - (no tempo da minha meninice na aldeia chamávamos-lhe “Atabefe” e “Almerce”… ) e eis uma boa razão para, ao saboreá-lo, me vir á memória mais uma vez os meus saudosos avós maternos (com a avó paterna convivi menos na minha idade de criança…) e, agora, aqui, por associação de ideias e sensações, vir também à questão o meu neto e toda a envolvência sentimental e familiar que ela encerra…

Os meus avós maternos – avó Maria (“Ti Maria Arroteadora”, como era conhecida e avô Gregório Alves) – eram gente da boa! Trabalhadores incansáveis, muito honestos e, embora os dois analfabetos, sabendo fazer contas de cabeça, não se deixavam enganar facilmente com as mesmas...

Vindos do concelho de Abrantes com as suas 4 filhas, moças jovens, bonitas e bem robustas para trabalhar no campo, pele fina da sua saudável juventude, embora tostada pelo sol da charneca, dos arrozais e das searas de sequeiro nos montes, elas eram para os pais forças extras e muitos importantes no arrotear da propriedade que os pais haviam tomado de renda ao senhorio, oficial da Marinha, que herdara a propriedade de seus pais e deles recebia anualmente a contrapartida da renda em dinheiro vivo e produtos das colheitas. Acontecia no final das mesmas, pelo S. Miguel, no término do mês de Setembro.

Arrotear e cultivar as terras bravias e depois semeá-las e tirar delas os produtos para o seu sustento e proveito, não era tarefa fácil mas, antes, muito dura e recordo bem de minha mãe contar que, ao nascer do sol, depois de calcorrearem ás escuras montes e vales, já elas - ela e as irmãs - estavam junto ao “pão” para o ceifar e atar, antes que o calor do sol o secasse e abrasasse, para depois ser carregado e levado para a eira. Era transportado em carros de bois e lembro-me do meu avô ter 3 juntas dos ditos (leia-se, em boa verdade, vacas…) que muito os ajudavam na labuta agrícola.

Porque nasci e fui mantido enquanto criança muito junto desta realidade, para além de guardar na memória muitas cenas deste quotidiano, cresceu em mim para com meus avós uma muita estima, um apreço e uma consideração grandes que me levou a sempre os estimar e até mimar, já nos seus últimos anos das suas vidas, com a maior estima e carinho. Eram pessoas excelentes de humildade, de sinceridade e beleza não só exterior mas, sobretudo interior!

Por isso e naturalmente pelo sangue que corria nas veias, nasceu e aumentou ao longo dos anos em mim um particular carinho e amor pelos meus dedicados avós e quero hoje prestar-lhes aqui uma pequena mas muito singela homenagem publicando sentidamente a sua foto como preito de reconhecimento, admiração e agradecimento pelo muito que por mim fizeram enquanto criança, pelo carinho e dedicação que me prestaram e que eu, já na sua velhice, tentei retribuir fazendo-lhe o melhor que sabia e podia para que tivessem um final de vida tão feliz e descansado quanto bem mereciam.

E é por isto e assim, como natural e normal associação de sentimentos e paixões, que quero agora registar um bem igual sentimento de particular amor e carinho que dia a dia, ano a ano, vou sentindo pelo meu único neto, num amor e carinho que sinto ser recíproco por também nele se notar com o passar dos anos, uma maior dedicação, um maior carinho pelos avós.

São sentimentos algo diferentes daqueles que sentimos pelos filhos e dou comigo a fazer e dedicar cuidados ao neto que não fazia ao filho… A idade, o calo da vida, as paixões já sentidas e passadas talvez levem a isso mas a verdade é que o que se sente pelos netos é muito diferente do que se sentiu e sente pelos filhos. Ouvia dizer isso, não tinha essa experiência mas, agora, confirmo como real.

E quando se passa como pelo hoje vivido aqui em casa quando o Rafael chega e, correndo para mim, abraçando-me pela cintura, onde ainda só dá a sua altura e, apertando-me me diz: “OLÁ, AVÔ LINDO!”, como fica um avô?

Uma delícia!

Um encanto!

3 comentários:

i.veloso disse...

o Rafael é lindo...sim senhor!!!
acrescento, que hoje de manha bem cedinho fiz uns queijinhos frescos.......deleciosos!!!!

gimnoflash disse...

Boa tarde Azevedo! Como o entendo!...
Os netos são a coisa mais maravilhosa que existe! Engraçado que cada vez mais, me lembro dos meus avós, (já falecidos)do amor que eles me dedicavam,dos miminhos.
Agora como avó que sou e o amor que sinto por eles faz-me recuar no tempo e pensar que embora tivesse gostado muito dos meus avós certamente não consegui retribuir todo o amor que eles me dedicaram.
Concluo que: o amor pelos nossos netos é tão forte que é difícil haver retribuição igual.
Para os avós basta ouvir de vez enquando "AVÓ ADORO-TE" ÉS A MELHOR AVÓ DO MUNDO" Quando ouço estas palavras sinto-me a mulher mais feliz do Universo.

Amigo Azevedo a idade não perdoa e faz-nos desabafar desta forma tão sentimental.

Unknown disse...

Pois é meu amigo,passei um pouco pelo mesmo com meus Avós e até nisso fui feliz pois os meus Avós viviam ambos, Maternos e Paternos na mesma Propriedade (Gavião) e era ali Que eu passava grande parte do meu tempo ora na casa de um ora na casa de outro,e como eu o percebo no que a saudades diz respeito.
Quanto aos Netos,bem sempre ouvi dizer que Avô é Pai duas vezes, e hoje eu sinto isso Quando a minha Neta com os seus 19 Mesites chega junto de mim e diz bô bô é algo que só quem passa por isso pode saber do que falamos,por isso quando você fala do seu Rafa eu bem o compreende,à não esqueça que daqui por um mesite e tal vou ser Avô outra vez,agora de um Rapaz.
Um abraço