terça-feira, 19 de dezembro de 2006

O NATAL VISTO DO BRASIL

Hoje volto a referir-me aos meus amigos do Brasil com quem diariamente convivo através desta maravilha da net...

São companheiros excelentes. Gajos porreiros e por isso gente boa!

Há dois anos conheci mesmo pessoalmente alguns no Rio de Janeiro e guardo gratas e inesquecíveis recordações da forma exemplar como fui recebido. Aconteceu até que o Val, - dr. Valcir, médico em S.Paulo - foi mesmo ao Rio para me conhecer pessoalmente. (Coitado!... Como ele deverá ter ficado desiludido...).

Na net diariamente falamos das nossas pescarias (todos somos pescadores), das nossas vidas, até das nossas famílias e também, como é lógico, do mundo que nos cerca, da sociedade em que vivemos.

De uma maneira geral todos os amigos brasucas do grupo são letrados e expressam-se com muita facilidade, desenvoltos na escrita e na fala e com as ideias bem arrumadas. Vejo que são pessoas cultas, muitos com fortes convicções religiosas e todos muito preocupados com o seu semelhante.

Certamente foi por isso que o Oscar, meu velho amigo de S. Paulo, apresentou num dos sites que frequentamos, um excelente texto alusivo ao Natal e que, com o seu assentimento, vou aqui publicar com o maior gosto, exactamente porque ele expressa de forma exemplar o muito que eu também penso da bela quadra que atravessamos.

Com o meu obrigado ao amigão Oscar, deixo o seu excelente texto que, embora extenso, vale bem a pena ler:

O ESPÍRITO DO NATAL NÃO ACABOU
ACABOU FOI A NOSSA PACIÊNCIA, A NOSSA ESPERANÇA!

Esse pra mim é um assunto triste, porque o que vejo acontecendo com as pessoas hoje, sinto em mim já há bastante tempo!
Natal para mim sempre representou congraçamento, despojamento da rigidez de atitudes e pensamentos para buscar, mais uma vez, o entendimento com a família, com o próximo, com o mundo e com a vida. Uma oportunidade que nos damos para rever posições e depois, desarmados, começarmos um novo ciclo.
Acontece nesse mundo cada dia mais maluco em que vivemos, com as sociedades se desconstruindo a cada dia pela danada (falando de Natal não dá pra usar o termo correto) filosofia da produção sempre crescente, da geração de lucros cada vez maiores, do objetivo da acumulação constante sem se importar com o que, quem ou quantos essa postura pode prejudicar.
Vivemos num mundo que cada vez dá menos oportunidade aos nossos filhos e sentimos hoje neles a desesperança. Vemos que as tais oportunidades, antes à disposição de qualquer um que tivesse um mínimo de empenho, hoje se encontram à disposição de muito poucos, para os tantos que somos.
Nós, mais velhos (só um pouco mais), que nos fizemos em outra época, percebemos isso com muita clareza. Nossos filhos, assim como os filhos do mundo, apenas se sentem perplexos e desnorteados, sem vislumbrarem um horizonte de vida e de estabilidade, como nós pudemos fazer.
Vivemos num mundo que, sob a égide do sucesso pessoal, faz com que a solidariedade e o espírito de grupo, inerentes à alma humana, tenham que ser sufocados com vistas à busca da oportunidade individual, inseridos em grupos onde mutuamente se mutilam competindo pela própria chance de sucesso.
Se bem olharmos, poderemos ver que, no mundo de hoje, voltamos ao tempo dos senhores feudais, quando alguns poucos eram donos de todos os meios e a quem ao povo cabia apenas servir e tentar sobreviver fazendo isso. O mundo de hoje está cada vez mais concentrado nas mão de cada vez menos gente, cada vez mais impessoalmente possuído por corporações gigantescas, que o tratam como fonte de produção de seus próprios lucros e onde as pessoas passam cada vez mais a ser entendidas e tratadas como simples meios de produção.
Os homens de hoje, somos todos reflexo do individualismo constantemente pregado e que aos poucos passou a fazer parte da nossa natureza. Fomos ensinados, ao longo de décadas, a nos bastar por nós mesmos, sem nos dar conta que assim nos enfraquecemos, porque passamos a ser apenas indivíduos isolados, facilmente atingíveis, ao invés de integrantes de sociedades coesas que tem como reagir e se auto proteger.
Nos desencantamos com o espírito de Natal porque nos acostumamos a ver que NATAL passou a significar oportunidade de ganho concentrado em curto período, porque passou a ser visto como o tempo de crescimento da produção para alimentar a exacerbação do consumo, que existe pela obrigação do presente em lugar da alegria do abraço.
Nos desencantamos porque vemos que, assim como as sociedades, a célula principal delas, A FAMÍLIA, também está condenada pelos mesmos princípios, com a unidade esgarçada pelo comportamento que a sociedade nos exige e pela desesperança que ela nos impõe.
O espírito de Natal está indo embora com os patriarcas das famílias, que vieram do tempo em que as esperanças eram mais presentes e factíveis e por isso ainda conseguiam aglutinar, com sua alegria legítima, os filhos que já não tinham a mesma felicidade.
Hoje somos apenas os filhos, porque os patriarcas quase todos se foram. Tentamos reproduzir o ritual de outros natais já vividos, mas quase todos já perdemos o espírito que permitia que eles antes acontecessem dentro de cada um de nós.
O nosso espírito de Natal foi derrotado pela ambição que provoca a guerra no Oriente Médio e mantém o bloqueio a Cuba. Nosso espírito de Natal foi sufocado pela briga com o imposto de renda que esvazia o contracheque dos felizes que ainda tem trabalho, mas com o salário achatado pelo trabalho quase escravo na China ou no Paquistão. Foi estrangulado pelos golpes na Previdência, que nos jogaram à mingua porque acreditamos na filosofia dela, mas não a defendemos quando foi assaltada. Foi golpeado pelo mensalão, pela reeleição dos mensaleiros....e pelo aumento que se proporcionaram agora.
Nos desiludimos com o espírito de Natal porque enfrentamos os juros do cheque especial e do cartão de crédito, com a sanha consentida dos bancos sobre nosso espremido saldo bancário. Nosso espírito de Natal foi atingido porque ficamos apenas assistindo e não tivemos coragem de brigar de verdade contra isso tudo.
Nosso espírito de Natal está agonizando pela desesperança que vemos nos olhos dos nossos filhos com pouco futuro, pelo olhar dos pais e das crianças sem qualquer futuro que estão na esquina das nossas casas.
Nosso espírito de Natal está quase morrendo porque estão acabando com aquele mundo que tinha grandes matas onde podíamos buscar nossas árvores de natal.
Nosso espírito de Natal está morrendo, porque o homem, que mesmo sempre tendo sido lobo do homem, pelo menos respeitava a própria matilha. Hoje ele é lobo de cada vizinho, lobo de cada irmão. Lobo até do Espírito de Natal.

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